domingo, 16 de setembro de 2007

Plantação de árvores exóticas ameaça animais no RS

Por Débora Kist

A expansão da monocultura de árvores exóticas e o desmatamento são responsáveis pelo declínio e a extinção de 26 espécies da fauna dos campos gaúchos. Segundo Glayson Bencke, biólogo e um dos autores do Livro Vermelho da Fauna ameaçada de extinção no RS, atualmente cinco dessas espécies têm a plantação de eucaliptos e pinus como ameaça direta.
Entre as cinco espécies que correm maior risco, quatro são aves: noivinha-de-rabo-preto, caminheiro-grande, caboclinho-de-barriga-preta e veste-amarela. Entre as demais 21 estão espécies de besouros, anfíbios e répteis. Em outubro de 2005, o governo gaúcho iniciou um megaprojeto para expandir a área de plantações comerciais de árvores na metade sul e no nordeste do Estado. Conforme Bencke, animais exclusivos destas regiões, de campos ensolarados, não se adaptam ao novo ambiente de floresta, que é sombrio.
Além dos impactos na diversidade da fauna, a plantação de árvores exóticas feita para suprir a indústria madeireira, de celulose e de papel, pode ainda trazer outras conseqüências ambientais. De acordo com Carla Villanova, do Núcleo Amigo da Terra/Brasil, sem um sério estudo sobre os impactos socioambientais não é possível prever o real impacto desta expansão na fauna riograndense. Ela explica que o plantio de árvores exóticas não deve ser confundido com florestamento ou reflorestamento, porque não é feito a favor de questões ambientais.
A sociedade tem se manifestado sobre o tema. Para o comerciante Inácio Brixius, de Venâncio Aires, a extinção de animais no estado é algo procedente: “Plantando árvores diferentes às que os animais estão acostumados, acho que é difícil eles sobreviverem”, afirma. Ana Flávia Hantt, estudante de jornalismo da Unisc, afirma que o impacto causado pelo desmatamento é mais prejudicial que o florestamento exótico. “Creio que o desmatamento atinge muito mais espécies por ainda ocorrer em maiores proporções do que a monocultura de árvores”. Para a professora de biologia de Passo do Sobrado, Solange Meurer, plantar árvores exóticas pode gerar a descaracterização de um ecossistema e a conseqüente extinção de recursos naturais tão necessários para a sobrevivência de determinada fauna.

Empresas de celulose são capazes de produzir três milhões de toneladas por ano. Dados do site Defesa da Vida Gaúcha apontam que o Rio Grande do Sul possui aproximadamente 400 mil hectares de monocultura de eucalipto, pinus e acácia. A estimativa é de que, em um pouco mais de uma década, as terras gaúchas, em sua maior parte formadas por campos nativos, terão mais de um milhão de hectares ocupados por plantações comerciais de árvores. Isto porque o governo gaúcho pretende instalar três grandes fábricas de celulose até 2010. Com a justificativa de desenvolver a economicamente retraída metade sul do estado, planeja-se a inauguração, em poucos anos, de uma unidade da Stora Enso, uma da Votorantim Celulose e Papel e de uma nova unidade da Aracruz na região. Cada uma capaz de produzir um milhão de toneladas de celulose branqueada por ano, o que necessitaria de uma forte e vigorosa base 'florestal' de eucaliptos, que ocuparia uma área de 300 mil novos hectares.

Livro aponta fauna ameaçada no RS. Ao longo de suas 632 páginas, o Livro Vermelho da Fauna Ameaçada de Extinção no Rio Grande do Sul informa os principais ecossistemas do Estado, disponibiliza mapa político, atmosférico, das unidades de conservação de proteção integral e de uso sustentável, e sobre as Reservas Particulares de Patrimônio Natural. Além de uma introdução sobre o desenvolvimento do projeto, a obra chama a atenção por quantificar as principais ameaças à fauna gaúcha, e orientar o público sobre ações recomendadas para conservação. Saiba mais no site www.pucrs.br.

NAT promove campanha contra plantio de árvores exóticas. O Núcleo Amigos da Terra / Brasil vem realizando, desde 2006, uma forte campanha contra a expansão das áreas com plantações de árvores exóticas no Rio Grande do Sul. Esta campanha visa evitar que a instalação de plantações de árvores exóticas em larga escala nos campos nativos gaúchos, acarrete impactos como a extinção de espécies de animais nativos. A diminuição do fluxo de água dos rios, a seca de vertentes e córregos, o aumento da salinidade e acidez dos solos, a desconfiguração de paisagens e de culturas e o aumento do êxodo rural nas regiões afetadas, são outros riscos da monocultura de árvores exóticas. Fonte: www.natbrasil.org.br

Nenhum comentário: